segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O traficante de livros de Recife

À primeira vista, o Bode, no bairro do Pina, Zona Sul de Recife, é uma comunidade ribeirinha como outra qualquer, onde boa parte da população vive do que dá o mangue, sobre o qual se erguem as palafitas. Lá vive muita gente sem perspectiva nem esperança, cercada por um cotidiano de drogas e violência. Lá também está fincada a Livroteca Guardiã, o único espaço de leitura da região, com um acervo de 500 livros destinados a crianças e adultos. A iniciativa não partiu de um representante do poder público, mas de Ricardo Gomes Ferraz, o Kcal Gomes, de 34 anos, morador da favela, um operador de som sem emprego fixo, ou um "traficante de livros", como se define. O amor aos livros, que Kcal faz questão de dividir com a comunidade, começou cedo, quando ainda era criança. Voltava da Escola a pé para casa porque gastava o dinheiro da passagem comprando livros em sebos. Foi assim que descobriu escritores como Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos, Clarice Lispector e Machado de Assis. Foi lendo e guardando o que lia, que reuniu para montar sua biblioteca. E, para poder compartilhar esse conhecimento, transformou a palafita onde morava numa biblioteca, que recebe por dia uma média de 30 crianças e adolescentes do bairro. Alguns não sabem nem ler, mas já começam a se exercitar, pelo menos, no hábito de folhear os livros. (O Globo)

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