ZÉ COELHO, UM ANO DE SAUDADE... UMA ENORME LACUNA
Thomas Carlyle – historiador e ensaísta escocês – é o autor da frase: “O grande homem demonstra a sua grandeza com a maneira pela qual trata os pequenos”.
Com esta frase presto uma homenagem ao amigo Zé Coelho, com quem tive a satisfação de conviver por praticamente quatro décadas. Esse convívio não aconteceu somente no âmbito profissional, dado que tive a honra e o privilégio de participar da intimidade de sua família na qualidade de conselheiro e confidente.
Muitas autoridades e amigos já escreveram sobre Zé Coelho após o seu passamento – parlamentares estaduais, deputados federais, senadores e ex-governadores do Estado de Pernambuco fizeram pronunciamentos homenageando o ilustre sertanejo – restando, pois, poucos aspectos para serem enfocados. Esta crônica é uma abordagem de um ex-colaborador e amigo.
Conheci Zé Coelho em meados de 1969, quando fui residir em Petrolina contratado pelo Grupo Coelho para substituir um economista espanhol.
As múltiplas atividades de Zé Coelho dariam para escrever um livro; portanto, talvez não consiga sintetizar o “modus vivendi” do empresário, político, líder classista, esportista e amigo Zé Coelho nesta crônica. É importante destacar que sempre houve uma simbiose entre as diversas atividades de Zé Coelho.
Zé Coelho foi um sertanejo de personalidade marcante, um líder na acepção da palavra, um empresário e empreendedor, transparente e cativante, sisudo em algumas ocasiões e jocoso em outras, um estrategista na área comercial – comprando bem e vendendo melhor ainda – em síntese, um grande homem e um político de atuação permanente, mesmo nos momentos em que esteve na planície, consoante o jargão parlamentar.
Sertanejo de estirpe – descendente do capitão Valério Coelho – nascido no semi-árido nordestino, caracterizado na sua maior parte por um terreno esturricado, conviveu desde a mais tenra idade com a ressequida flora da caatinga, com o balido e o tocar dos chocalhos de caprinos e de ovinos e com o aboio dos vaqueiros.
Conhecedor profundo das dificuldades enfrentadas pelos sertanejos Zé Coelho sempre propugnou para mudar esse cenário e minorar o sofrimento de sua gente.
Outra peculiaridade de Zé Coelho era o respeito aos humildes – que exercitava no cotidiano à frente dos negócios da Exportadora Coelho, do Curtume Moderno, da Somassa e mais recentemente da Bari – atendendo de maneira afável aqueles fornecedores, clientes e líderes políticos procedentes do interior e de municípios e de estados circunvizinhos que tinham em Petrolina o ponto de apoio para comercialização de suas pequenas produções de artigos oriundos da flora e da fauna caatinguícola.
Gregário por índole, Zé Coelho sempre buscou a confraternização com seus semelhantes e o maior exemplo dessa faceta é que sua residência vivia repleta de amigos para um “dedo-de-prosa”. Raro era o dia que não tinha um convidado à mesa para o café matinal, almoço ou jantar.
Além disso, Zé Coelho sempre recebeu bem a todos que o procuravam – na qualidade de amigo, de correligionário, de cliente e de fornecedor – durante toda sua permanência entre nós, desde a dupla passagem pela Prefeitura de Petrolina até o coroamento de sua trajetória política, como Senador da República.
Festeiro por excelência, o Carnaval (com sua tradicional charanga), o São João e Cosme e Damião, dentre outras datas festivas, eram sempre comemoradas com familiares, amigos e colaboradores.
Após o falecimento de Dona Josepha a residência de Zé Coelho passou a ser o ponto de recepção de autoridades civis, militares e eclesiásticas que visitavam Petrolina, ocasiões em que eram servidos lautos almoços, típicos da culinária sertaneja.
Empresário e empreendedor pró-ativo quando o termo globalização ainda era desconhecido ou quiçá pouco utilizado, nosso homenageado já a colocava em prática, pois foi pioneiro na exportação de melões produzidos no Submédio São Francisco para a Alemanha e de mel de abelhas, largamente apreciado na Europa Ocidental pela sua palatabilidade.
Como se verifica, o nosso homenageado viveu intensamente e enfrentou inúmeras batalhas em prol de sua Petrolina, do Vale do São Francisco, de Pernambuco, do Nordeste e do Brasil, saindo vencedor na maioria delas. Na qualidade de economista, consultor de empresas, assessor parlamentar e amigo sinto orgulho de ter colaborado com pessoa tão batalhadora em muito de seus desafios.
Hoje, ao completar um ano de sua partida resta-nos, segundo o poeta e cronista Ernani Bezerra de Souza, “uma cadeira vazia, sem vibração, sem vida, silenciosa, testemunha de uma época, pois quem lhe transmitia calor e dinamismo foi embora, conviver em outro plano”.
Ficamos órfãos de respeito, de consideração e de liderança amiga, legando para nós – seus amigos e familiares – uma imensa saudade e uma enorme lacuna.
José Maria Isola
Economista, natural de Salto (SP), reside há 40 anos em Pernambuco foi diretor das Indústrias Coelho S/A – ICSA e atualmente é consultor de empresas.