terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Tributo

Comendador José Coelho, o solidário amigo dos amigos.

* Rogério Joaquim de Carvalho Jr. é Administrador de Empresa

Conheci o “seu Zé Coelho” expressão pela qual ele mais gostava de ser chamado, logo que ingressei na escola de Administração da UFBA, e comecei a namorar Inês, sua primeira filha.
Aos 6 anos de idade Inês veio estudar em Salvador, e nesta época morou com Dona Eunice Moraes Coelho, viúva do Deputado Gercino Coelho primogênito do clã Coelho. Era pai de Jó, Roberto e Nilo Moraes Coelho, que foi Governador da Bahia.

Anos mais tarde, com a vinda de todos os filhos, “Seu Zé” e Dona Livia montaram um belo apartamento em frente à Praça do Campo Grande.
Lá, eles criaram os nove filhos (Inês, Lauro, Fátima, Verônica, Ciro, Lívia, Lídia, Claudia e Luiz Eduardo). Todos eles estudaram nos melhores colégios de Salvador até ingressar na universidade. Apenas Luiz Eduardo estudou em São Paulo.

Zé Coelho nasceu em Petrolina, era o terceiro filho homem de Clementino Coelho e Josepha de Souza Coelho. Iniciou seus estudos na sua terra natal e depois veio para Salvador, onde estudou no Colégio Sophia Costa Pinto e no Ginásio da Bahia havendo se formado em “Ciências Econômicas” como ele gostava de dizer.
Ainda na faculdade, começou a trabalhar com Gileno Amado na filial do Banco do Distrito Federal, agência de Salvador, e posteriormente trabalhou no Banco da Bahia como “voluntário” (função que hoje equivale ao papel de estagiário), já que seu pai, o conhecido Coronel Quelê não admitia que Fernando Góes o remunerasse - considerava suficiente a mesada que enviava, até que um dia Fernando Góes (que não se conformava com a austeridade do Coronel), passou a remunerá-lo.

Quando Zé Coelho se formou, o pai o convidou para ser sócio da Exportadora Coelho e o fez retornar a Petrolina.
Desde então, ele colocou à prova toda a sua capacidade empreendedora, desenvolveu a sensibilidade para o comércio. De convívio ameno meu sogro era muito próximo da mãe e das irmãs: Dulcinéa que era casada com o Marechal do Exercito Alves Filho, Diva casada com Cazuza grande companheiro na política, e Darcy casada com Macedo - que ainda vive em Petrolina.
Após a morte precoce do pai, num acidente de automóvel na estrada Salvador-Petrolina, Zé Coelho assumiu a presidência da Exportadora. Passava a semana viajando de avião, visitando este imenso Brasil e vendendo seus produtos.
Sempre fazia escala em Salvador antes de retornar a Petrolina, e no seu apartamento do Campo Grande, promovia agradáveis encontros e jantares para aproximar o seu relacionamento, com os amigos de seus filhos.
De aparência austera, sempre de terno e gravata, ia se familiarizando com os jovens e nos convencia a conhecermos Petrolina, onde foi prefeito por duas vezes.
Dedicou-se a Petrolina e a sua gente, e junto com os irmãos e os amigos da terra deu o melhor de si pelo desenvolvimento e progresso da cidade.

Queria mostrar a nós, seus jovens amigos, os projetos implantados na região, suas empresas familiares e o parque industrial, sempre com o seu carisma peculiar e alegria que contagiavam a todos os convidados - era uma “casa cheia”.
Muito dinâmico, ele nos contava o resumo de suas viagens, convidava-nos para conhecermos a próxima festa da uva em Blumenau, e sonhava em plantar parreiras irrigadas pelas águas do Rio São Francisco. Assim, convivemos e participamos de muitas noites animadas e proveitosas.
No dia seguinte cedo, seguia viagem para Petrolina, onde cumpriria o embarque de todos os contratos que havia assinado durante a viagem ao sul do país.

No escritório da Exportadora Coelho ele não só trabalhava como dava assistência e resolvia os problemas dos mais variados assuntos dos seus amigos e correligionários. Por muito tempo serviu como ponto de convergência e base de sustentação eleitoral, dos seus irmãos Nilo, Osvaldo, Geraldo e Augusto na política pernambucana.
Quando iniciava o ano eleitoral os irmãos Coelho eram imbatíveis, sobretudo no sertão pernambucano.
Inês e eu casamos em 1979 e de lá até 19 de maio de 2007 mantivemos uma relação de respeito, amizade, apoio e solidariedade a D. Lívia Cléa e Zé Coelho.

Embora trabalhássemos em ramos de atividades diferentes, sempre que o Secretário Geral do Itamaraty a época Paulo Tarso Flecha de Lima organizava uma viagem oficial, Zé Coelho telefonava me convidando a participar desta comitiva delegada pelo Itamaraty, para que juntos empresários e governo promovessem e vendesse seus produtos no exterior.
Assim, participamos da comitiva de empresários à Argentina, Venezuela, Portugal, Espanha e até a China – Pequim, Xangai e Hong Kong e Japão.
Nestas viagens, como a que fizemos a “Feira do Couro” em Paris juntamente com o Senador Nilo Coelho, Zé Coelho conquistava os companheiros com a sua alegria e seu carisma pessoal, especialmente clientes internacionais, e foi assim que fez uma seleção de grandes amigos, parceiros e fornecedores.

Ele tinha uma disposição impressionante, e quando chegava a Petrolina, não parava.
Juntamente com os irmãos, Senador Nilo, Deputado Federal Osvaldo, Deputado Estadual Geraldo, Prefeito Augusto, o industrial Paulo, e Adalberto que da Bahia cuidava do comércio exterior, Zé Coelho organizava visitas de Presidentes da República, Ministros de Estado, Presidentes e Diretores do Banco do Brasil, Banco do Nordeste, BNDES e Superintendente da Sudene, Codevasf, Governadores de Pernambuco – todos iam a Petrolina.
Nestas oportunidades eles aproveitavam para apresentar projetos de desenvolvimento para a região, para o parque industrial, reivindicações dos empresários locais, e a necessidade de criar projetos agrícolas para irrigar as terras do Vale do São Francisco, estes os maiores impulsionadores da economia regional - hoje uma realidade concreta!

Todas as autoridades, por tradição, eram recebidas na residência da mãe Dona Josepha matriarca desta grande família.

Meu sogro era um mestre na conciliação. Em todas as eleições para a Presidência da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, Seu Zé era convocado, e com harmonia e habilidade consensuava uma chapa única. Por diversas vezes, ocupou a vice-presidência da Federação como representante do Sindicato das Indústrias de Massa.

Seu trabalho político com as bases do sertão, foi coroado de êxito quando assumiu a vaga de Senador da Republica pelo estado de Pernambuco em março de 2001, na 52ª Legislatura.
Durante este período, pudemos notar o quanto foi útil ao Brasil, pela atuação empreendedora aliada ao espírito cívico e conciliador. Neste momento participou de três importantes comissões do Senado: comissão de Orçamento, comissão de Educação e Comissão de Relações Exteriores.
Ainda no Senado ele fez a moção de homenagem pelo falecimento do escritor Jorge Amado. Nesta oportunidade ele pode expressar seu amor à Bahia, terra à qual ele dedicava grande afeição pela identidade que devotava à cultura, à musicalidade, à gastronomia e ao jeito baiano de ser, além de ser a terra natal de sua mulher, e de seus filhos.

Estivemos em Brasília para sua posse com nossos filhos Rogério Joaquim de Carvalho Neto e Bernardo Joaquim de Carvalho, e lá registramos o momento com uma fotografia na Ala Senador Nilo Coelho, homenagem que Dr. Nilo recebeu do Senado quando faleceu no exercício da Presidência do Congresso Nacional em 1983.

Seu Zé Coelho era um homem generoso, alegre, tinha compromissos com os seus amigos, madrugador e trabalhador contumaz, dedicado aos ideais de desenvolvimento de Petrolina, de Pernambuco, e do Brasil, e especialmente solidário com o povo mais humilde do interior.
Deu exemplo de vida pessoal correta e professava a fé católica.
Por todos estes relevantes serviços prestados ao seu país, recebeu ao longo de sua vida, importantes condecorações tais quais; a Medalha dos Guararapes - maior honraria do Estado de Pernambuco, a medalha Grã Cruz Mérito Escolar Marechal Rondon, Medalha de Pacificador do Exército Brasileiro, Medalha Barão do Rio Branco do Itamaraty, entre outras.

Zé Coelho foi uma figura humana especial e tenho certeza que Deus lhe dará o lugar a que ele faz jus na eternidade. Agradeço a Seu Zé o privilégio da sua convivência, dos seus exemplos e dos seus ensinamentos.

(Este texto é um tributo que o meu pai Rogério Joaquim de Carvalho oferece em nome de todos os amigos de José de Souza Coelho, e foi atualizado por mim *, para publicação em homenagem ao seu 85º aniversário, no dia 19 de fevereiro de 2008)

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