quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Não ao padrão, por Milena Regis

Por e-mail recebi este texto de Milena Regis que tem um studio de Pilates, em Salvador. Gostei tanto da mensagem que publico no meu blog ofecerendo aos leitores como reflexão neste dia 31 de final de 2008 quando normalmente fazemos o planejamento do ano novo! Vale a pena. A-MEI.
Me senti compelida a escrever este artigo após passar o fim-de-semana usufruindo de um dos meus passa-tempos prediletos: observar as pessoas e criar – em silêncio – pequenas estórias para cada uma delas com base no que posso captar através da postura, atitude, tipo-físico, maneirismos e tudo o mais que pode ser revelado à distancia entre dois corpos. Hoje já é lugar-comum falar de uma visão mais holística do ser humano. Sabemos que corpo/mente/espírito é a trindade que compõe um ente maior: o Ser. Como meu instrumento de trabalho mais direto é o corpo, aprendi a conhecer a fundo a mente e o espírito humanos através desta faceta mais tangível, exposta e reveladora que são a tipologia e os hábitos posturais de cada indivíduo. Em Salvador, não há melhor posto de observação do que uma praia. Sobretudo em época pré-verão. Desta vez chocou-me uma constatação: mulheres com corpos extremamente musculosos e masculinizados e homens com rostos e corpos impecavelmente sem pêlos, como mulheres. Ao invés de pequenas estórias particulares fui obrigada a analisar o que eu via sob um contexto mais amplo. Algumas questões surgiram: Será que, na ânsia por igualdade aos homens, as mulheres decidiram parecer também fisicamente com eles? Será que a graciosidade, delicadeza, charme e elegância femininas viraram para as mulheres modernas sinais de fragilidade e por isso substituídas por músculos pesados e grotescos? Claro, estamos – felizmente - numa época em que cada vez mais atenção é dada à importância dos exercícios físicos para a manutenção da saúde geral do indivíduo. E é muito melhor termos tecidos musculares tonificados do que cobertos por tecidos adiposos. Mas a que custo? É realmente saudável passar horas levantando peso, correndo no asfalto escaldante e tomando esteróides e hormônios para criar uma massa muscular? De que adiantam músculos fortes se não se tem coordenação motora e equilíbrio na estrutura do corpo para se movimentar com liberdade, economia, inteligência e, porque não, com a beleza, elegância e sensualidade intrínsecas à mulher? Porque seguir o padrão Madona se não precisamos - como a cantora - passar 3 horas cantando e dançando num palco 5 dias por semana? Por outro lado, porque os homens precisam ter sobrancelhas feitas, corpos que parecem de plástico (e muitas vezes são mesmo!) e bíceps e peitoral que os fazem movimentar-se como gorilas e que preferem olhar sua própria imagem refletida em qualquer lugar a olhar nos olhos de uma mulher (ou homem mesmo) e se descobrirem ali? Em suma: por quê temos que seguir um padrão? Onde se perdeu o respeito por si mesmo?Não será essa confusão de identidades um reflexo de nossa insegurança em relação a nós mesmos? Essa necessidade de fazermos parte de um grupo, de sermos aceitos por um grupo, essa auto-afirmação, não revela, na realidade, uma falta de auto-aceitação? Nesta época pós-modernista, pós-feminista, pós-machista, pós-racista, não seria hora de parar de levantarmos bandeiras e respeitar o indivíduo por quem ele é, e pronto? Esse respeito deve começar pelo respeito a si – próprio, pela auto-aceitação. Respeito que gera autonomia - que não deve ser confundido com o individualismo, palavra-chave e negra deste Séc. XXI. Para respeitar-se a si mesmo faz-se necessário antes saber quem somos. E para isso é crucial uma certa introspecção. É preciso desligar-se um pouco deste excesso de informações geradas pelos meios de comunicação de massa, formadores de opiniões e padrões ditados pelo mercado capitalista. Descobrindo-se a si mesmo, e aceitando-se, nos livramos de cobranças super-impostas e expandimos nossos limites e possibilidades. As inseguranças terminam e ficamos felizes com o que somos. Respeitamos quem somos. Assim, passamos a respeitar também quem está ao nosso lado, e quem sabe, como num ciclo virtuoso, ao invés de sermos apenas pequenas estórias individuais possamos criar uma estória maior; influenciar num contexto mais amplo a família, o bairro, a cidade, o país....o mundo enfim. Sem padrões a serem regidos ou seguidos e sim com indivíduos autônomos que respeitam-se mutuamente. E então surge a beleza de uma vida humana autêntica, segura, livre e mais feliz. Feliz 2009 para todos vocês. Milena Regis

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