Ausência de trabalho conjunto entre diretores, professores e coordenadores pedagógicos impacta sobretudo a atuação dos novos docentes.
A gestão escolar é um fator relevante na construção da Educação pública de qualidade, quando não há um trabalho de equipe entre diretores, coordenadores pedagógicos e professores, obter sucesso na aprendizagem fica mais difícil. A falta de apoio e comunicação entre estes profissionais afeta o aprendizado de forma sistêmica e os mais prejudicados são os professores recém formados. Segundo especialista, parte do problema está na forma de contratação dos diretores e no distanciamento destes profissionais com os docentes. Para o professor titular de graduação e pós-graduação da universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração Escolar (Gepae), Vitor Henrique Paro, o diretor da escola normalmente não tem tempo para trabalhar com os novos professores e acaba atuando apenas como representante do estado na escola. Vitor Henrique Paro lembra que atualmente em São Paulo os diretores são concursados e nem sempre tem uma boa formação. “O diretor deveria ser um educador e isso nem sempre acontece”, explica o professor. Segundo ele, é muito frustrante para um professor estudar teorias e técnicas educacionais e, quando chega à escola, não encontrar espaço para implementá-las. “Deveria haver uma maior ligação entre o conteúdo pedagógico e a direção da escola” comenta. De acordo com Paro, quando o novo professor inicia sua carreira, se vê em uma escola atrasada, distante do que imaginava. O coordenador do Gepae afirma que os professores fazem curso de pedagogia, aprendem teorias de Educação, lêem Paulo Freire, mas quando chegam à escola deixam a teoria de lado e acabam se adaptando à realidade da sala de aula. A experiência da professora Flávia Eliza Egydio Leva, 28, confirma a importância da gestão escolar na qualidade do trabalho do docente. Ela conta que trabalhou em uma escola muito complicada nos limites da capital com Diadema. “Lá, eu sentia que a todo o momento meu trabalho era sabotado”, reclama a professora. Os dois principais problemas eram a indisciplina dos alunos e a falta de respaldo da direção e coordenação da escola. “Briguei muito com os alunos. Não tem como recorrer a uma fundamentação teórica para um aluno que não quer ficar na sala de aula”, explica a professora. Além disso, ela lembra que a biblioteca estava sempre fechada e a diretora ia embora às 18h. Na primeira oportunidade que teve, Flávia pediu transferência de escola. Hoje, ela leciona na escola estadual Reducino de Oliveira Lara, na zona sul da capital paulista. O professor André Eduardo Ribeiro, 31, também do colégio Reducino, afirma que a gestão da escola é fundamental para manter um equilíbrio entre os professores mais experientes e os novatos. “Essa troca de experiências é essencial”, explica o docente. André lembra que no começo da carreira sentia um pouco de dificuldade. “Não estava acostumado com a rotina diária de aulas. Encontrava as turmas duas vezes por semana e repetia um pouco o conteúdo”, lembra o professor, que já chegou a ter quinze turmas com mais de 40 alunos para completar a carga horária mínima de trabalho. A primeira turma da professora Camila Regina Imay Bazzo, 30, foi uma 1ª série do Ensino Fundamental com alguns problemas, ela conta que na sala havia casos de alunos que sofriam violência doméstica e alguns até passavam fome. “Se não fosse o apoio de todos os profissionais da escola Reducino seria muito difícil contornar a situação”, explica. Segundo ela, algumas lacunas da formação podem ser preenchidas com o contato e troca de experiência entre os colegas de trabalho e os cursos de capacitação. (De Olho na Educação)
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